Medalhas, para que vos quero?

No passado dia 4 de Junho, Alberto João Jardim, foi condecorado pela Assembleia Legislativa Regional da Madeira com a mais alta insígnia da Região Autónoma, a medalha de mérito. Mérito pelo seu percurso histórico e pelos reflexos da sua ação na economia da Região ‘e que estão à vista de todos’, disse a Vice-Presidente da Assembleia no seu discurso. Para o bem e para o mal, direi eu.

Sobre o cidadão Alberto João, nada tenho que dizer. Em termos pessoais, sempre foi cordial no trato e simpático na abordagem. Enquanto responsável pela condução dos destinos deste território insular, julgo que foi mais um dos azares que esta terra teve ao longo da sua história. Enquanto político, foi um déspota que não respeitou a democracia. Sim, não basta ganhar eleições. É também preciso exercer o poder com espírito democrático.

Poderá ter tido as suas contingências, mas no final e na hora de ganhar uma medalha, foi um homem com uma visão curta e imediatista nas soluções, errando no modelo de desenvolvimento que, ainda hoje, continua empurrando a Madeira para aquilo que nunca deveria ter sido: duas ilhas de natureza singular desqualificadas pelo ‘progresso’ ditado pelo ‘círculo viciado’ da construção civil que, ainda hoje, não deixa existir um desenvolvimento fora do seu ciclo vicioso.

Alberto João Jardim optou pelo caminho fácil que lhe foi oferecido por Bruxelas: dinheiro a rodos para colmatar debilidades infraestruturais que a Madeira e o Porto Santo tinham; endividamento fácil que levou a um buraco negro onde sumiram milhões de euros que deveriam ter sido aproveitados a qualificar aquilo que as ilhas têm de melhor: a natureza e as pessoas. Em vez disso, com o balanço das obras necessárias, veio uma série de outras, desnecessárias, caras, que endividaram as gerações futuras e debilitaram a credibilidade da Região.

Provavelmente haveria alguém que poderia ter feito pior, mas certamente terá havido condições e pessoas que poderiam ter feito melhor. Para isso era necessário que alguém tivesse pensado num modelo de desenvolvimento sustentável para uma região que apesar de ‘ultra-periférica’ tem outras condições que são extraordinárias. Poderá não ter havido massa crítica e gente suficiente que impedisse este ‘progresso’ alarve. Poderá a Madeira não ter estado preparada para receber a Liberdade, a Democracia e preparar um futuro que hoje pudesse ser exemplar.

Mas a verdade é que o caminho que a Madeira trilhou nos últimos anos tem um nome e a pessoa que tem esse nome não é merecedora de uma medalha apenas porque esteve lá. Ou então serei eu que dou um significado errado às medalhas, sobretudo às de mérito. Sobretudo porque foi atribuída pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma, um órgão democrático, desrespeitado pelo medalhado, cujos deputados foram várias vezes enxovalhados por ele. Alberto João Jardim, que ‘democráticamente’ destratava todos os seus oponentes, quer fossem dos partidos da oposição, quer fossem da sociedade civil, quer fossem até dentro do seu próprio partido. Até aceito que esses, os do seu próprio partido, propusesse tal distinção. Entendo porém que os outros partidos, no máximo, só devessem ter chegado a uma abstenção e apenas porque, apesar de tudo, os seus mandatos foram ganhos em eleições democráticas. Os símbolos e as insígnias têm significado e, para mim, a Assembleia Legislativa da Madeira, que foi desprezada sucessivamente por Alberto João Jardim, deveria ter sido a última prestar esta homenagem.

 

publicado no JM – jornal da Madeira em

20 de Junho de 2018

Pérolas do Atlântico

 

A RUÍNA SUBMERSA

O jardim da ilha que se apresentava florido, moderno e em próspero desenvolvimento, afinal tinha os seus alicerces a desmoronar. A ilha ajardinada , a pérola do Atlântico, foi violada, desbaratada e penhorada para as gerações futuras pagarem.

A ilha não percebeu, na devida altura, que a sua maior riqueza era a sua natureza, a sua história a sua condição insular.

Em vez disso, deixou a ilha cheia de buracos. Feridas na natureza e buracos financeiros.

 

A ILHA À DERIVA

Depois, em vez de se corrigirem os erros estruturais, de se criarem novos alicerces, a ilha quer fazer crer, ter quebrado com o que a ligava ao anterior modelo de desenvolvimento. Hoje encontra-se à deriva. Em vez de ter encontrado novas formas de assegurar a sua sustentabilidade, umas vezes parece querer regressar às fundações anteriores outras vezes percebe-se, à vista desarmada, que vagueia no Atlântico desnorteada.

 

 

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Um pequeno vulcão parece estar a despontar no fundo do mar, ligado à plataforma continental. Promete ser, se um dia emergir acima da linha de água, a melhor ilha para viver no Atlântico e arredores. Porém, a investigação cientifica tem tido grandes dificuldades para descobrir qualquer vestígio que aponte qual será a sua evolução e se tem suficiente magma para dar origem a uma ilha que não desapareça a seguir como acontece a tantas ilhas jovens.

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Uma pérola do Atlântico merecia mais. Merecia mais, merecia saber melhor quais são as opções para o seu futuro. Se vai continuar à deriva, se vai regressar à ilha dos jardins suspensos, ou se vai deixar crescer uma ilha a qual nada se sabe no que vai resultar.

 

 

publicado no JM em 

25 de Abril de 2018

Política ‘instragramica’, não, por favor!

Houve tempos em que as cartas, as proclamações, os manifestos, os jornais, as cartas, tinham a sua importância. Palavras ditas da boca para fora constroem atoardas, criam boatos e alimentam coscuvilhices, ‘bilhardices’. Porém, se elas ficarem preto no branco, comprometem. A palavra escrita é aquela que fica. É ela que liberta, mas é também aquela que compromete.

Contudo, aos poucos, a palavra tem vindo a desaparecer. Quase sem nos apercebermos, as cartas deram lugar aos SMS’s, enquanto o jornalismo foi dando lugar ao comentarismo. Dos blogues, daqueles que continham ideias e debates, passou-se para o facebook, para as frases curtas, comentários extemporâneos e bujardas anónimas que o mundo cibernético permite com facilidade. Mas, até isso…até isso, é preferível à vertigem da imagem. Hoje impera a cultura ‘instagramica’. Uma imagem com duas ou três palavras quanto muito, uns filtros para ‘pintarem‘ a coisa bonita e, ideias… zero.

Quando a expressão política também se resume apenas a uma imagem, com uma frase que serve de legenda, quando a política se esvazia de ideias e é substituída por uma colagem de frases feitas, acompanhadas de imagens bonitas… então é sinal que batemos no fundo.

Quando isto acontece, ou os políticos pretendem, objetivamente, lobotomizar lentamente a sociedade, ou os cidadãos não estão minimamente interessados em discutir nada. Ou, então, não há ideias para colocar à discussão e por isso tiram-se fotografias, fazem-se inaugurações e debitam-se discursos redondos, feitos de frases de catálogo.

Quando estas três situações acontecem ao mesmo tempo, temos um problema. E o problema chama-se populismo. Esse populismo, não raras vezes, acaba mal. Ou numa degeneração democrática que dá lugar à demagogia, ou num condicionamento despótico sobre uma população que sucumbiu à miragem prometida do demagogo messiânico.

Jardim assim fez. Surfando os euros que jorravam da Europa e o perdão de dívidas incontroláveis, cavando buracos orçamentais para semear betão e alimentar ervas daninhas, à custa de um populismo que saciava as necessidades de uma região empobrecida na sua ultraperiferia, dando lugar a um modelo de desenvolvimento insustentável que buscou inspiração noutros lugares turísticos que nada tinham a ver com esta pérola no Atlântico. Porém e apesar da escolha de um modelo fácil de conduzir, mesmo por alguém sem carta de condução, houve uma ideia qualquer de desenvolvimento, ainda que insustentável e desadequada a este território.

Mas hoje, até as ideias parecem ter saído do debate político.

Contra esse caminho que aqui nos trouxe, o projeto que o PS Madeira iniciou em 2015 com Carlos Pereira, tinha por base um modelo de desenvolvimento alternativo para a Madeira. Havia ideias por detrás desse projeto. Mas esse projeto foi interrompido. Em vez da verdade e credibilidade de Carlos Pereira, ganhou um futuro pelas pessoas de Emanuel Câmara. Assim quiseram 57% dos filiados no PS da Madeira.

Falta agora saber como o novo presidente vai liderar um partido que disputou dois caminhos diferentes e que pontes vai construir para os unir. Aliás, a única forma do PS se apresentar uno e capaz de liderar um projeto com um rumo diferente daquele que, até agora, tem sido escolhido para a Madeira. Falta ainda saber que ideias poderão construir essa alternativa a um PSD que, agora se começa a perceber, estar a reconstruir uma unidade em torno de uma deriva neo-jardinista, no discurso e na forma.

Façamos então um esforço para regressar à palavra, às ideias, às estratégias, aos debates e à cidadania. Só assim se poderá fazer a diferença e a mudança.

26 de Fevereiro de 2018
publicado inJM . Jornal da Madeira

Capítulo III – Pandora

Este capítulo III, que encerra a trilogia que iniciei aqui no JM em 9 de Maio do ano passado e que acolheu também o segundo capítulo na edição de 8 de Novembro, continua a saga que o PS da Madeira vive na disputa da sua liderança.

Fazendo um flashback, escrevi eu em Maio de 2017, que se estava a preparar uma ‘jogada’, dissimulada, para puxar o tapete a Carlos Pereira, líder do partido. A coisa era feita pela calada. Paulo Cafôfo, dava a entender por meias palavras e omissão de outras, que ambicionava ser O candidato a presidente do Governo Regional, vencidas as eleições para a assembleia legislativa regionais em 2019, por uma coligação de partidos liderada por ele. Mas tudo se passava em surdina. Estávamos antes das eleições autárquicas, o PS deveria apoiar a coligação Confiança e, muitos daqueles que hoje vociferam contra o mandato de Carlos Pereira ainda lhe davam palmadinhas nas costas para ver se as coisas corriam sem sobressaltos até às autárquicas.

No capítulo II, entra em cena um avatar de Cafôfo. Emanuel Câmara, reeleito presidente da Câmara Municipal de Porto Moniz com uma honrosa maioria absoluta suportada por 1.406 cidadãos num universo de 2.112 eleitores, propõe candidatar-se a líder do PS contra Carlos Pereira. E porque razão? Perguntarão aqueles que observaram o PS crescer desde o descalabro das eleições regionais de 2015. Porque, diz ele, quer unir o Partido em torno de um projecto em que todos acreditem (…); e para apresentar em 2019 um projecto que seja o que todos os madeirenses quiserem (…). Ou seja, resumindo, não tem grande ideia sobre o que quer que seja esse ‘projeto’, a única coisa que está bem clara é que ele está disposto a entregar o PS a um ‘líder de uma coligação de partidos’ que dá pelo nome de Paulo Cafôfo. E o PS? Bom, o PS também não interessa muito porque, por um lado, ele sabe que António Costa sabe que ele é um ‘elemento de unidade e estabilidade’ e, por outro lado, também sabe bem os passos que deve dar, pois tem o mesmo titereiro que o quis empurrar para concorrer em 2015 e que agora também puxa os cordéis.

Vamos então ao capítulo III. Nesta altura do filme, temos Carlos Pereira que, desde que está à frente do PS-Madeira, delineou uma estratégia que só tem tido bons resultados. É também à custa dos militantes, dos simpatizantes e dos autarcas eleitos pelo PS.? É. Mas é também à conta do seu trabalho, do respeito que ganhou dentro do grupo parlamentar na Assembleia da República, da substância do que escreve, da confiança que inspira enquanto conhecedor das matérias da governação e da diferença que faz onde, como político, atua, discute e argumenta.

Do outro lado, temos um militante filiado no PS que se acha capaz de liderar o seu partido a partir da autarquia mais distante da sede no Funchal, mas que já não se acha capaz para concorrer, pelo seu partido, a presidente do Governo Regional. Por isso, não se importa de emprestar o seu partido a Paulo Cafôfo. Este, por sua vez, ainda não saiu do armário. Continua sorrateiramente e sem se comprometer por palavras escritas e sem assumir o seu papel de estrela principal para o qual foi convidado pelo candidato oficial.

Entretanto, desafiada esta candidatura bi-céfala por Carlos Pereira, para um ou mais debates públicos, sobre as ideias que cada um tem sobre o futuro do seu partido e um projeto de governação alternativo ao eterno PSD, fecham-se em copas e dizem que o debate deve ser feito à porta fechada dentro do partido.

Então deixem-me explicar porque é que os debates devem ser públicos. Simplesmente porque, em primeiro lugar há garantia de haver um debate frente a frente; em segundo porque, apesar de se conhecerem largamente as ideias e estratégias de Carlos Pereira, não se conhece uma única ideia dos seus opositores, para além de frases feitas e fotografias; em terceiro, porque um partido mostra o seu nível democrático, de transparência e de abertura à sociedade civil, quando não mostra medo de debater abertamente o papel que pretende ter a bem do interesse comum e dos seus cidadãos. O debate de ideias mostrará elevação e dará credibilidade a um partido que quer ser uma alternativa em 2019. A não ser que, tanto o avatar como a pessoa que o anima, não tenham ideias para debater, ou razões plausíveis para provocar uma cisão quando o caminho estava a ser trilhado com bons resultados.

​2 de Janeiro de 2018
publicado in JM . Jornal da Madeira

As palavras que ainda não vos disseram

Há cerca de meio ano, no dia 9 de Maio saiu neste Jornal, um texto meu que espoletou alguma polémica, sobretudo no seio do PS Madeira. Vaticinava eu, que se preparava uma candidatura camuflada de Paulo Cafofo às eleições regionais de 2019, quando tinha acabado de começar a sua campanha para continuar como presidente da Câmara do Funchal. Dito e feito. Mas muitos dos que ficaram ofendidos com as palavras que disse, palavras escritas, afinal queriam era que se falasse baixinho, porque, afinal, era verdade.

Como na altura disse, não sou ingénuo para julgar que a política e a disputa do poder se fazem sem artifícios, mas há uma coisa que me incomoda solenemente, que é a dissimulação. Respeito e gosto mais das pessoas que se comprometem.

Cafofo continua sem se comprometer com as palavras que diz e escreve. As ´palavras que vos disse’ no seu artigo de opinião no DN de dia 6, pairam como uma espécie de espírito santo que um dia há de trazer a boa-nova. Só se consegue ler o texto verdadeiro nas entrelinhas.

Mas o Dia da Anunciação já foi protagonizado por um anjo. O presidente da Câmara do Porto Moniz, ainda os votos das autárquicas estavam quentes, anunciava a sua candidatura à liderança do PS Madeira contra Carlos Pereira, para, pura e simplesmente, estender uma passadeira vermelha ao ‘LÍDER DE UMA COLIGAÇÃO DE PARTIDOS’ – Paulo Cafôfo dixit in DNoticias 2017-11-06.

O caricato, é que também o candidato a líder do PS, Emanuel Câmara, vê Paulo Cafofo como um líder, o único capaz de apresentar um projeto do PS credível para as eleições em 2019.

Mas Cafofo continua a pairar, sem se comprometer com palavras escritas, mesmo tomando assento na primeira fila da apresentação de Emanuel Câmara a líder do PS Madeira.

Porém, há que o dizer, os únicos que realmente mostram a sua alma, a sua verve, os que são verdadeiramente livres e donos de si mesmo, são os que o fazem através da palavra impressa e não apenas os que têm opinião, por palavras ditas, atos ou omissões.

Cafofo não teve ainda a hombridade e coragem para dizer ao que vem. Escuda-se atrás de uma marioneta e só assumirá o seu projeto se esta ganhar o PS.

E assim, chego às palavras que ainda não vos disseram.

A primeira é que, através de Emanuel Câmara, o PS prepara-se para entregar a alma ao Criador e ir desvanecendo como partido na Madeira, como já aconteceu no Concelho de Santa Cruz, como aconteceu na Cidade do Porto e outros lugares pelo País fora.

A segunda é que Carlos Pereira vai debater a sua liderança à frente do PS com Emanuel Câmara e por isso nunca poderemos ter um frente a frente entre Carlos Pereira e Paulo Cafofo, para saber quem é que seria o melhor candidato às regionais de 2019, pois Cafofo só aparecerá se Emanuel Câmara ganhar o partido. A não ser que Cafofo venha a jogo dê o peito às balas, como fazem AS PESSOAS.

E para terminar, depois de uma série de opiniões certamente controversas, acabo com uma frase que me parece consensual. Uma coisa é popularidade, outra é a competência. A primeira, a maior parte das vezes, só se consegue com populismo. A segunda, às vezes é incómoda para as pessoas, mas é a única que é capaz de construir algo diferente que a Madeira precisa, depois de 40 anos de populismo.

7 de Novembro de 2017
publicado in JM . Jornal da Madeira

A Golpada

Não tenho em boa conta criaturas sonsas e pessoas que não se comprometem com as suas vontades.

No exercício da política há lugar a simulações, hipocrisias e jogos de poder em que o bluff e outros artifícios fazem parte do combate natural para levar a bom termo um projeto político. Negar isso seria ser ingénuo ou utópico.

No entanto, há limites!

Não falo de limites para quem arrisca uma ‘jogada’, pois isso corre por conta de quem a pratica e aí, os limites têm a ver apenas com a sua ética e moral. Falo tão somente dos limites da paciência de quem assiste a um jogo de rebelião cujos protagonistas apregoam ao mesmo tempo que é preciso estabilidade, da paciência que é preciso ter para sentir algumas facas espetadas nas costas e ter que sorrir ao mesmo tempo.

Essa é que é a verdadeira paciência. E tem limites.

O que se desejaria, a seis meses de umas eleições autárquicas era, para bem dos candidatos e sucesso dos partidos que os apoiam, existir calma e estabilidade. Carlos Pereira tem feito isso pelo PS. Tem suportado várias facadas nas costas e também pela frente, mantendo a serenidade e um sorriso na cara em nome da estabilidade necessária para que o projecto autárquico do PS na Madeira seja um projeto de sucesso.

Mas há limites. E agora, pela terceira vez, foi ultrapassado mais um limite. Paulo Cafôfo, no congresso autárquico do PS não desmentiu o jornalista que lhe perguntou se poderia vir a ser candidato nas Regionais em 2019; numa entrevista à SIC, disse sobre o mesmo tema que não se fecham portas para esse caminho. Ontem, no Jornal da Madeira, surge uma notícia que não foi desmentida, em que, sem grande surpresa é certo, Paulo Cafôfo e Vítor Freitas (aquele que sofreu a maior derrota do PS em eleições regionais), apoiariam Duarte Caldeira para confrontar a atual direção do PS Madeira protagonizada por Carlos Pereira. Uma jogada para, obviamente, Cafôfo ter o apoio do PS Madeira e em 2019 ser o candidato a presidente do governo regional.

Ora isto coloca duas situações.

Por um lado, torna mais transparente e claro que Paulo Cafôfo quer ser candidato em 2019 o que, para aqueles que se preparam para votar nele em Outubro próximo para continuar como presidente da Câmara do Funchal, constitui um logro. No meu ponto de vista não faz sentido votar para um presidente que deverá cumprir um mandato de 4 anos onde, na prática, se irá candidatar para um ano e meio e, mesmo assim, um ano e meio a pensar não na sua cidade, mas no cargo a que se candidatará nas regionais.

Por outro lado está a dizer claramente, com a aceitação da noticia que saiu no passado sábado neste Jornal, que está obviamente contra a direcção do partido que, à partida, o apoiará nas próximas eleições autárquicas. Ora, se até aqui a paciência não se tinha esgotado, que estará então à espera esta pandilha que se opõe à direção eleita em congresso, sem oposição, que até hoje não teve qualquer derrota?

Pois eu não sei o que fará Carlos Pereira. Mas eu, no seu lugar, não dava mais para este ‘peditório’.

Tudo isto é política e, neste contexto, nada disto é anormal. É normal que Cafôfo, ainda embriagado pela sua eleição há 4 anos, pense que apenas a ele se deve aquela vitória, almejando assim voos maiores sem sequer ter cumprido o seu primeiro desígnio. É normal que Caldeira queira passar de presidente da Junta a presidente da Câmara e é normal que Vitor Freitas se agarre a qualquer bóia, já que da barca de Carlos Pereira, ele já saltou há muito tempo.

Mas o que não é normal é tudo continuar nesta indefinição fingida com notícias sonsas.

E é por tudo isto que tinha sido melhor ter havido um congresso no PS Madeira antes das autárquicas, clarificando posições e definindo estratégias, sem ter que se assistir a estas jogadas que só destabilizam um partido que se prepara para umas eleições determinantes para o seu futuro próximo.

E sou eu a dizer isto, que nem sou filiado no PS. Apesar disso, julgo ter uma melhor noção do que é ser-se militante do que alguns dos que foram ao congresso do PS há dois anos e votaram maioritariamente a moção que deu o comando do partido a Carlos Pereira.

17 de Maio de 2017
publicado in JM . Jornal da Madeira

No Parlamento

Cento e quarenta e quatro dias já passaram desde da tomada de posse como deputado na Assembleia da República. Uma experiência diferente, desafiante e renovadora em termos pessoais, de entrega e empenhada na causa pública.

Após um primeiro período de adaptação, durante o qual se testemunhou a queda do governo proposto pela PaF e a tomada de posse do atual governo liderado por António Costa, apoiado pela maioria parlamentar que aprovou o seu Programa, a Assembleia da República discute agora em sede de especialidade o orçamento para o próximo ano, que já foi aprovado na generalidade.

Ao contrário do que meio mundo agoirava, vaticinando o desentendimento das forças políticas de esquerda com o PS, o Programa de Governo do Partido Socialista vai orientar o desenvolvimento do País apoiado numa maioria parlamentar democraticamente eleita.

Ainda constrangido pelos efeitos de uma crise económica internacional e de uma posterior reação da coligação PP/PSD à crise que não conseguiu reerguer o País para os níveis desejáveis e prometidos, começa-se hoje a perceber hoje um novo rumo para Portugal. Um rumo que inclui mais justiça económica e fiscal, maior equidade e novas estratégias para a recuperação da economia, nomeadamente a de uma aposta clara e concreta nas políticas de Requalificação Urbana.

Para além de um conjunto de políticas que se expressam nas grandes Opções do Plano, percebe-se inequivocamente um novo entendimento e posicionamento, sobre o modelo de desenvolvimento para o País, que difere substantivamente daquele adotado pela maioria de direita nos últimos 4 anos. Modelo esse que Passos Coelho conduziu a caminho de um liberalismo ‘selvagem’ onde o Estado teria um papel marginal, mas lá estaria servindo de rede quando as acrobacias dos privados corressem mal e onde se salvava quem pudesse e conseguisse, esquecendo os mais desprotegidos, deixando-os à sua sorte e ao sabor da boa vontade das misericórdias. Mas hoje respira-se um novo ar, de mais esperança, de maior equidade e de estratégias reformadoras com impacte no desenvolvimento económico.

A Madeira, que tendo escolhido o ano passado, a continuidade do modelo de desenvolvimento defendido durante 40 anos pelo PSD, continua sem qualquer rasgo de inteligência para se adaptar a um novo paradigma, onde já não jorra dinheiro fácil pelos cofres dentro, tem hoje mais a ganhar com o Governo do PS de António Costa do que com a habitual navegação-à-vista em que Miguel Albuquerque é especialista encartado.

Para que este orçamento trouxesse benefícios para a Madeira e Porto Santo, muito fizeram os deputados da Madeira do PS na Assembleia da República. Com diplomacia e propostas concretas, com empenho e um desejo genuíno de levar à Região o melhor que este orçamento pode conseguir, a Madeira terá nos próximos tempos um conjunto de benefícios, muitos deles fruto do trabalho e da competência reconhecida entre os nossos pares, de Carlos Pereira e do PS-Madeira.

A Madeira terá no próximo ano mais apoios sociais, contando com o aumento do complemento solidário para idosos, das pensões e do abono de família, para além de uma maior dedução em IRS contando com o aumento do quociente familiar para os descentes e ascendentes. O aumento do salário mínimo e a eliminação dos cortes salariais da função pública, não só virão repor mais justiça social como, inclusive, poderá animar ligeiramente a economia, tal como a baixa do IVA na restauração pode defender os pequenos empresários da restauração, ou pelo menos aqueles que conseguiram sobreviver suportando o aumento brutal do IVA de que foram alvo.

Além disto, que está delineado para o todo nacional, a Madeira verá chegar um empréstimo de 75 milhões para pagamento a dividas a empresas e a correção de cerca de 17,5 milhões que não constavam no orçamento relativamente ao fundo de coesão.

A confirmação de cofinanciamento no novo Hospital da Madeira é também um compromisso do governo de António Costa que agora espera responsabilidade e compromisso do Governo Regional, para a elaboração do novo projeto e aquisição de terrenos, de forma a estabilizar os valores envolvidos.

Resumindo, a ‘geringonça’, termo adotado pelo CDS e PSD para denegrir a nova correlação de forças parlamentares que apoiam o governo, afinal funciona. E funciona com resultados positivos para a Madeira.

15 de Março de 2016
publicado in JM . Jornal da Madeira