Série I.001
Desenvolvimento Sustentável
Nos anos 60, tratavam-se apenas de ideias de pequenos grupos apelidados de sonhadores, utópicos ou loucos. Hoje são ideias apregoadas nos discursos dos governantes e é politicamente correcto utilizar essa palavra no discurso social: AMBIENTE.
Ambiente, Ecologia, Desenvolvimento Sustentável, são palavras que estão na moda, embora a sua prática esteja muitas vezes àquem do desejável.
Sabendo hoje que, à velocidade com que temos consumido os recursos naturais, desenvolvemos urbes desorganizadas e macrocéfalas e criamos desequilíbrios sociais e económicos, não vamos muito mais longe, parece começar a mudar aos poucos a ideia que se tinha de Progresso. Hoje o significado desta palavra começa a estar desligado do betão e do aço, dos arranha-céus, do transporte individual, do consumismo desenfreado e da utilização aleatória dos recursos que a natureza nos oferece.
É assim urgente reflectir sobre a forma como estamos a ocupar e utilizar o território e sobre a eficácia dos modelos económicos e sociais adoptados. É esta reflexão que propõe, em termos gerais, a Agenda Local 21. Este documento, ou plano, que saiu da primeira conferência mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, em 1992, identifica os problemas e as mutações que as sociedades do século XX sofreram com a migração para as cidades e salienta a vulnerabilidade do meio ambiente. A Agenda 21 denuncia o desequilíbrio existente entre os 3 principais vectores de desenvolvimento: o económico, o ecológico e o social ou comunitário. A ideia essencial é pensar de uma forma global, sem esquecer o que nos rodeia, e agir localmente.
É localmente que se podem fazer as grandes apostas, pois é aqui que as populações podem interagir e discutir o seu futuro de uma forma mais directa.
No entanto é preciso utilizar outras fórmulas distintas das actuais, pois a maneira como o sistema democrático está implementado ao nível autárquico, tem levado à destruição da paisagem rural, ao desenvolvimento caótico das cidades e à degradação da qualidade da vida urbana. O sistema de rotatividade de um projecto politico, de 4 em 4 anos, é muito limitativo para o que uma cidade realmente precisa. Daí que se aponte para a criação de Planos Estratégicos que dêem um rumo ao desenvolvimento de cada cidade. Assim, talvez se possa passar ao lado do caricato espectáculo das inaugurações antes das eleições e não se deixar apenas à mercê do poder económico o destino da cidade mas tendo em conta os outros vectores de desenvolvimento.
O Desenvolvimento Sustentável de uma comunidade depende do equilíbrio entre estes 3 vectores e para que ele exista, é necessário envolver na elaboração de um Plano Estratégico todo o cidadão, através das várias associações comerciais, industriais, profissionais, ambientalistas etc, em que a Câmara tomaria, principalmente, o papel de maestro. Esta é, não só uma forma de encontrar soluções em conjunto, mas também de responsabilizar cada um dos parceiros por cada direcção apontada. É a maneira inteligente de traçar um rumo para a cidade. E quando se fala em rumo para uma cidade fala-se nas grandes linhas que há a traçar em relação à actuação nos Centros Históricos, ao Património edificado, às Novas Centralidades, à qualidade dos Espaços Públicos, à Ecologia urbana, aos sistemas de Mobilidade, à criação e localização dos equipamentos públicos e, sobretudo, na definição e exponenciar das qualidades que poderão tornar cada cidade num lugar onde dê gosto viver e seja interessante visitar.
Funchal, 17 de Janeiro de 2003
publicado in Diário de Notícias da Madeira