Capítulo III – Pandora

Este capítulo III, que encerra a trilogia que iniciei aqui no JM em 9 de Maio do ano passado e que acolheu também o segundo capítulo na edição de 8 de Novembro, continua a saga que o PS da Madeira vive na disputa da sua liderança.

Fazendo um flashback, escrevi eu em Maio de 2017, que se estava a preparar uma ‘jogada’, dissimulada, para puxar o tapete a Carlos Pereira, líder do partido. A coisa era feita pela calada. Paulo Cafôfo, dava a entender por meias palavras e omissão de outras, que ambicionava ser O candidato a presidente do Governo Regional, vencidas as eleições para a assembleia legislativa regionais em 2019, por uma coligação de partidos liderada por ele. Mas tudo se passava em surdina. Estávamos antes das eleições autárquicas, o PS deveria apoiar a coligação Confiança e, muitos daqueles que hoje vociferam contra o mandato de Carlos Pereira ainda lhe davam palmadinhas nas costas para ver se as coisas corriam sem sobressaltos até às autárquicas.

No capítulo II, entra em cena um avatar de Cafôfo. Emanuel Câmara, reeleito presidente da Câmara Municipal de Porto Moniz com uma honrosa maioria absoluta suportada por 1.406 cidadãos num universo de 2.112 eleitores, propõe candidatar-se a líder do PS contra Carlos Pereira. E porque razão? Perguntarão aqueles que observaram o PS crescer desde o descalabro das eleições regionais de 2015. Porque, diz ele, quer unir o Partido em torno de um projecto em que todos acreditem (…); e para apresentar em 2019 um projecto que seja o que todos os madeirenses quiserem (…). Ou seja, resumindo, não tem grande ideia sobre o que quer que seja esse ‘projeto’, a única coisa que está bem clara é que ele está disposto a entregar o PS a um ‘líder de uma coligação de partidos’ que dá pelo nome de Paulo Cafôfo. E o PS? Bom, o PS também não interessa muito porque, por um lado, ele sabe que António Costa sabe que ele é um ‘elemento de unidade e estabilidade’ e, por outro lado, também sabe bem os passos que deve dar, pois tem o mesmo titereiro que o quis empurrar para concorrer em 2015 e que agora também puxa os cordéis.

Vamos então ao capítulo III. Nesta altura do filme, temos Carlos Pereira que, desde que está à frente do PS-Madeira, delineou uma estratégia que só tem tido bons resultados. É também à custa dos militantes, dos simpatizantes e dos autarcas eleitos pelo PS.? É. Mas é também à conta do seu trabalho, do respeito que ganhou dentro do grupo parlamentar na Assembleia da República, da substância do que escreve, da confiança que inspira enquanto conhecedor das matérias da governação e da diferença que faz onde, como político, atua, discute e argumenta.

Do outro lado, temos um militante filiado no PS que se acha capaz de liderar o seu partido a partir da autarquia mais distante da sede no Funchal, mas que já não se acha capaz para concorrer, pelo seu partido, a presidente do Governo Regional. Por isso, não se importa de emprestar o seu partido a Paulo Cafôfo. Este, por sua vez, ainda não saiu do armário. Continua sorrateiramente e sem se comprometer por palavras escritas e sem assumir o seu papel de estrela principal para o qual foi convidado pelo candidato oficial.

Entretanto, desafiada esta candidatura bi-céfala por Carlos Pereira, para um ou mais debates públicos, sobre as ideias que cada um tem sobre o futuro do seu partido e um projeto de governação alternativo ao eterno PSD, fecham-se em copas e dizem que o debate deve ser feito à porta fechada dentro do partido.

Então deixem-me explicar porque é que os debates devem ser públicos. Simplesmente porque, em primeiro lugar há garantia de haver um debate frente a frente; em segundo porque, apesar de se conhecerem largamente as ideias e estratégias de Carlos Pereira, não se conhece uma única ideia dos seus opositores, para além de frases feitas e fotografias; em terceiro, porque um partido mostra o seu nível democrático, de transparência e de abertura à sociedade civil, quando não mostra medo de debater abertamente o papel que pretende ter a bem do interesse comum e dos seus cidadãos. O debate de ideias mostrará elevação e dará credibilidade a um partido que quer ser uma alternativa em 2019. A não ser que, tanto o avatar como a pessoa que o anima, não tenham ideias para debater, ou razões plausíveis para provocar uma cisão quando o caminho estava a ser trilhado com bons resultados.

​2 de Janeiro de 2018
publicado in JM . Jornal da Madeira

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