Hospital

Série II.014

Hospital

O Hospital Central do Funchal tem cerca de 40 anos. Ao longo da sua vida, sobretudo na última década, tem sido objeto de várias obras de manutenção, remodelação, requalificação e ampliação.

Desde a sua génese o hospital da Cruz de Carvalho tinha previsto um espaço de ampliação onde hoje se situam as novas instalações da Escola Horácio Bento. As iniciais instalações dessa Escola eram blocos pré-fabricados, com carácter provisório, para, precisamente, um dia virem abaixo sem contemplações e dar origem à expansão do hospital central do Funchal.

​O que aconteceu então? Há uns dez anos, o governo de Alberto João Jardim, pouco dado a planeamentos, resolveu esquecer-se da questão da ampliação do hospital e construir nesse espaço um edifício escolar definitivo, num lugar contraproducente, junto à confluência da via rápida com as vias urbanas, sem o espaço necessário para a paragem dos automóveis que trazem e levam os alunos, num edifício 4 pisos, de uma mediocridade arquitetónica confrangedora e sem o conforto e qualidade espacial para o pessoal docente e para os alunos, que aumentaram em número para o dobro.

Logo após a construção do novo edifício escolar, o hospital começou a rebentar pelas costuras.

​Olha que azar! O que fazer então?

​Como ainda decorria o tempo das ‘vacas gordas’, quando ainda estavam no ar as gruas das obras megalómanas que hoje não servem para nada, houve a ideia de construir o melhor e maior hospital que se tinha visto até então.

Houve terrenos expropriados em Santa Rita, concurso para o projeto e concurso de empreitada. Estava tudo pronto a ser construído. Só que, entretanto, era preciso acabar uma série daquelas obras megalómanas que hoje não servem para nada.

Gastaram-se milhões em túneis que não levam a lado nenhum, em pontes que continuam em suspenso, centros de saúde que perderam o seu sentido com as vias rápidas, em centros cívicos desproporcionados e desenquadrados e outras obras para inaugurar.

​O Hospital ficou assim para as calendas gregas, à espera de um milagre, talvez.

​Mas era preciso dar resposta a um problema grave em que as instalações hospitalares da Madeira se estavam a transformar. Então toca a fazer ampliações, acrescentos, marquises e outros artifícios que transformaram as instalações hospitalares da Cruz de Carvalho num aborto disforme e disfuncional, sem cura, que há de continuar nos cuidados paliativos até, daqui umas dezenas de anos, quando houver dinheiro para demolir aquilo.

Entretanto, como era de prever, são mesmo precisas novas instalações hospitalares para dar resposta, não só à desgraça a que chegou o Hospital Nélio Mendonça, como à antiguidade do dos Marmeleiros ou do João de Almada. Mas o programa deste possível novo hospital já não é o mesmo do de há 10 anos. Já foram construídas novas valências e hoje estamos em tempo de ‘vacas magras’ a pagar contas pretéritas dos desvarios jardinista onde se sonhava a ‘Singapura do atlântico’.

Mas antes de passar à frente, é necessário que fique uma coisa bem clara: O investimento na construção de um hospital foi em tempos uma opção política que não foi tomada porque se andou a gastar o dinheiro do contribuinte noutras tontices que, para além de inúteis, contribuíram, algumas, para a transformação desqualificada paisagem insular.

Contudo, um problema parece evidente: um Hospital novo é hoje imperativo de acordo com os estudos que já foram feitos e que não discuto.

Por isso, nas últimas eleições regionais, todos os partidos consideraram a construção de um novo hospital público nos seus programas eleitorais.

Miguel Albuquerque, no início do seu mandato, reconfirmou tal desígnio e elegeu a construção do novo hospital como uma das prioridades do atual governo regional.

É claro, não disse como.

Se estava a pensar num investimento total do Governo Regional, numa parceria público-privada, com a comparticipação do Estado, com fundos europeus, num hospital misto privado e público, etc, etc.

Talvez tivesse combinado alguma coisa com o seu companheiro de partido e na altura primeiro ministro, Pedro Passos Coelho. Mas nessa altura ninguém se apercebeu das suas revindicações como agora. Se calhar na altura, ou ainda no mandato de Alberto João Jardim, levaram nega do governo do PSD/CDS e nem sequer conseguiram a comparticipação do Estado com que António Costa se comprometeu já este ano e que os deputados do PS na Assembleia da Republica tanto fizeram para que tal acontecesse.

Porém o cumprimento desse compromisso não depende apenas do Estado. Neste momento depende sobretudo do Governo Regional. Para se saber de que valores estamos a falar e em que fases eles têm de ser disponibilizados, é imprescindível haver um projeto com pés e cabeça que seja validado pelo Governo da República, que o vai comparticipar com a Região Autónoma. É por isso compreensível que não se passem ‘cheques em branco’, sobretudo a entidades que já mostraram não saber montar um assunto tão importante como este para a Madeira e o Porto Santo.

​18 de Outubro de 2016
publicado in JM . Jornal da Madeira

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