Revolução energética

Série II.021

Revolução Energética

Muito provavelmente, mais depressa do que se julga, as cidades vão sofrer uma transformação significativa por força das políticas energéticas.

A Comissão Europeia está cada vez mais empenhada em caminhar para uma economia de baixo carbono e a prova disso são os vários milhares de milhões de euros que o Plano Juncker prevê destacar para apoios (alguns já em execução) à eficiência energética e à utilização de energias provenientes de fontes renováveis.

Embora o tipo de apoios esteja assente em apoios financeiros e garantias bancárias, se estes programas forem bem implementados, é normal que, não só as empresas, mas também o cidadão individual, possa usufruir de empréstimos financeiros muito favoráveis para tornar a sua habitação mais eficiente em termos energéticos e, indiretamente, possa beneficiar da transformação das redes existentes em ‘redes inteligentes’ e por isso, adquirir a energia que necessita, mais barata.

Uma das estratégias que foi bastantes debatida no 17º encontro interparlamentar sobre Energias Renováveis e Eficiência Energética que teve lugar em Malta no mês passado, foi a da interligação das redes, sobretudo entre o Norte da Europa e o Sul e também Norte de Africa. Portugal, por exemplo, prepara-se para fazer a primeira ligação com Marrocos depois da que já existe com Espanha.

Mas como a Madeira e o Porto Santo são duas ilhas e as tecnologias hoje disponíveis não permitem uma ligação à plataforma continental em águas tão profundas, teremos que assumir diferentes estratégias. Ou seja, caminhar para a autossustentabilidade insular em termos de produção energética. É certo que não temos gás natural ou (felizmente) outro combustível fóssil. Mas temos mar, vento e sol, elementos que são os principais veículos para a produção de energia limpa e renovável.

O certo é que, nos dias que correm, a Madeira produz cerca de 30% de energia a partir de fontes renováveis, o que é bastante bom se tivermos em conta que as metas europeias para 2030 são de 27%.

E, embora nos próximos tempos, não possamos crescer muito mais se não forem feitos investimentos para armazenar a energia que é desperdiçada, sobretudo durante a noite, também é verdade que, com a evolução tecnológica, possamos vir a alcançar valores mais ambiciosos.

As pequenas ilhas como a Madeira ou o Porto Santo, apesar de não poderem usufruir da ligação a outras redes, merecem uma atenção especial pois constituem laboratórios e casos de estudo úteis ao desenvolvimento tecnológico.

Isso esteve muito presente no encontro da EUFORES em Malta e que foi precedido pela assinatura por 15 países europeus, entre os quais Portugal, de uma Declaração Política com o compromisso de olhar com especial atenção para as ilhas no que concerne à transição energética. Isso deve ser feito através de investimentos específicos, envolvendo instituições académicas, governos e parceiros privados com o objetivo de, através de investigação e prática, alcançar resultados que tornem possível um desenvolvimento sustentável assente em energias renováveis.

Uma das estratégias alcançáveis é o da eficiência energética. Com efeito, a energia mais barata, mais limpa e mais segura é aquela que nunca chega a ser consumida. Por isso é que a eficiência dos edifícios deve ser melhorada, mas, sobretudo, a implementação de tecnologia que torne as redes elétricas mais eficientes e contribua para a consciencialização do cidadão relativamente ao seu consumo.

Outro dos aspetos interessantes, é que a passagem para transportes coletivos e individuais movidos a energia elétrica, pode ser um fator essencial para o sucesso das energias de fonte renovável que produzem eletricidade. Numa ‘rede inteligente’, não só estes veículos podem ser carregados a horas em que a energia é mais barata, como podem acumular energia que, em ligação à rede elétrica, poderiam vende-la em alturas de pico de consumo na rede.

Mas aquilo que me fascina é que, nesta transição energética que se aproxima a passos largos, a cidade, com a poluição atmosférica e sonora que ainda hoje temos, vai-se transformar radicalmente.

Por isso é fundamental que, qualquer estratégia que hoje esteja a ser delineada para as cidades, tenha em conta que daqui a dez ou quinze anos, a mobilidade que hoje condiciona o desenvolvimento urbano, se vai alterar substancialmente.

20 de Junho de 2017
publicado in JM . Jornal da Madeira

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